Manter o cérebro ativo é essencial para promover um envelhecimento saudável e prevenir doenças neurodegenerativas, como a Doença de Alzheimer (DA). Com o avanço da idade, é natural que ocorram mudanças cognitivas, frequentemente associadas a alterações fisiológicas decorrentes do ciclo da vida. Essas mudanças podem levar a uma diminuição gradual das funções cognitivas, especialmente aquelas que envolvem velocidade de processamento, memória episódica e memória de trabalho.
Nesse contexto, as atividades cognitivas desempenham um papel fundamental. Um estudo recente, intitulado “Cognitive Activity and Onset Age of Incident Alzheimer Disease Dementia”, acompanhou mais de 1.900 pessoas idosas, sem diagnóstico de demência no início da pesquisa, ao longo de até 22 anos, analisando sua participação em atividades cognitivamente estimulantes. Durante esse período, cerca de um quarto dos participantes desenvolveu a Doença de Alzheimer.
Os resultados mostraram que aqueles que mantinham um alto nível de atividade cognitiva, como ler, resolver quebra-cabeças e se engajar em discussões, foram diagnosticados com DA em média cinco anos mais tarde do que aqueles com níveis mais baixos de atividade mental. Assim, notou-se que um estilo de vida cognitivamente ativo pode retardar o surgimento da demência, proporcionando melhor qualidade de vida.
A pesquisa também destaca que diferenças significativas nos níveis de atividade cognitiva estavam diretamente relacionadas à idade de início da demência, indicando que um maior envolvimento em atividades mentais pode atrasar o diagnóstico.
Um conceito fundamental que merece destaque é a reserva cognitiva (RC), definida por Stern (2023) como a capacidade do cérebro de apresentar um desempenho melhor do que o esperado, considerando o grau de alterações cerebrais ao longo da vida. Essa reserva é essencial, pois, mesmo diante de alterações cerebrais, a pessoa pode continuar funcionando bem cognitivamente.
Wilson e colaboradores (2021) abordaram atividades cognitivas, como leitura, escrita e jogos de tabuleiro, e relataram que essas podem contribuir para aumentar a reserva cognitiva e, consequentemente, retardar o início dos sintomas de demência. Essas atividades são acessíveis e envolvem o processamento de informações, favorecendo a manutenção das funções cognitivas mesmo em contextos de envelhecimento.
Assim, o envolvimento em atividades que estimulem intelectual, física e socialmente pode ser uma estratégia eficaz para um envelhecimento mais saudável. Ler, aprender algo novo e socializar são práticas que enriquecem a vida da pessoa idosa, promovendo não apenas sua saúde mental, mas também sua qualidade de vida.
Além disso, promover um estilo de vida ativo e engajado pode ter implicações significativas para a saúde pública, pois o atraso no início da demência melhora a qualidade de vida e reduz os custos relacionados aos cuidados de saúde. A pesquisa sugere que, mesmo um atraso de apenas um ou dois anos no início da demência, poderia ter um impacto enorme, reduzindo a prevalência da doença em 41% e os custos associados em 40% (Wilson et al., 2021).
Portanto, a resposta à pergunta inicial é um enfático “sim”: manter o cérebro ativo é um recurso valioso na luta contra a Doença de Alzheimer. Que tal começar hoje mesmo um novo hobby, envolver-se em atividades que desafiem sua mente ou formar um grupo de leitura? O futuro do seu cérebro irá agradecer!
Referências:
WILSON, Robert S. et al. Cognitive activity and onset age of incident Alzheimer disease dementia. Neurology, v. 97, n. 9, p. e922-e929, 2021. Acesso em: 03 out. 2024.
STERN, Yaakov et al. A framework for concepts of reserve and resilience in aging. Neurobiology of aging, v. 124, p. 100-103, 2023. Acesso em: 03 out. 2024.
Profa. Dra. Thais Bento Lima da Silva – Gerontóloga formada pela Universidade de São Paulo (USP). Mestra e Doutora em Ciências com ênfase em Neurologia Cognitiva e do Comportamento, pela Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo. Docente do curso de Bacharelado e de Pós-Graduação em Gerontologia da Escola de Artes, Ciências e Humanidades da Universidade de São Paulo (EACH-USP), pesquisadora do Grupo de Neurologia Cognitiva e do Comportamento da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo e diretora científica da Associação Brasileira de Gerontologia (ABG). Membro da diretoria da Associação Brasileira de Alzheimer- Regional São Paulo. É parceira científica do Método Supera. Coordenadora do Grupo de Estudos em Treino Cognitivo da Universidade de São Paulo.
Maria Antônia Antunes Fernandes – Bacharel em Gerontologia pela Escola de Artes, Ciências e Humanidades da Universidade de São Paulo (EACH-USP). Foi bolsista de iniciação científica PUB do projeto: “Intervenções psicoeducativas para a COVID-19 aliada à estimulação cognitiva no programa USP 60 +”. Atualmente é colaboradora do Grupo de Estudos em Treino Cognitivo da USP (GETCUSP), atuando na área de pesquisa em treino cognitivo de longa duração.